Fim dos lixões vira um sonho distante – Prefeitos assumem incapacidade para
acabar com depósitos a céu aberto até 2014, como manda a lei, e pedem mais prazo
“Meu pai e minha mãe me criaram com isso daqui, eu tirei o
sustento dos meus filhos daqui, e, hoje, o do meu neto também. Se isso acabar,
como é que nós vamos ficar?”, indaga Cosme de Assis, catador do Lixão da
Estrutural, aqui no Distrito Federal, sobre a desativação do lugar. Cosme está
incrédulo quanto às promessas de readequação dos catadores após o fim dos
lixões, exigido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), aprovada em
2010. O prazo para que todos os lixões a céu aberto do país sejam desativados
vai até 2 de agosto do ano que vem. Mas, se depender de muitos prefeitos
brasileiros, catadores como Cosme vão continuar vivendo no lixo por mais tempo.
Matéria de Étore Medeiros e Marianna Rios, no Correio Braziliense, socializada
pelo ClippingMP.
O temor dos prefeitos tem procedência. O Ministérios Público
poderá processar os prefeitos por improbidade administrativa, caso não
desativem os lixões. Se isso ocorrer, todos poderão ficar inelegíveis. “Temos
prefeituras no Acre, como a de Porto Walter ou de Santa Rosa do Purus, em que o
prefeito não tem sequer um servidor de nível superior. Então, cada caso vai
depender da postura e da sensibilidade do promotor e do gestor municipal”, diz
a procuragora-geral do Acre, Patrícia de Amorim Rêgo.
Relator da lei que instituiu a PNRS, o deputado federal
Arnaldo Jardim (PPS-SP) critica a proposta dos prefeitos. “A legislação tem que
premiar posturas e punir quem não segue uma regra. Sou terminantemente
contrário a qualquer dilatação do prazo”, afirma.
Novos prazos
O MMA estima que apenas 20% dos 5.565 municípios brasileiros
concluíram os projetos ou solicitaram verbas para sua elaboração até 2 de
agosto de 2012, quando expirou o prazo legal para esta etapa do processo.
O gerente de Projetos da Secretaria de Recursos Hídricos e
Ambiente Urbano, Saburo Takahashi, revela que o órgão vai soltar, em breve, uma
nova chamada para os municípios que perderam o primeiro prazo. “Para atender os
80% que restam, temos de tomar pé da situação e verificar como poderemos apoiar
esses municípios que ainda não têm planos.”
Em Igaci, a 150 Km de Alagoas, o prefeito Oliveiro Pianco
(PMDB) nem bem foi empossado e já recebeu uma intimação do Ministério Público
para acabar com o lixão da cidade, de 25 mil habitantes, sob pena de pagar do
próprio bolso multa de R$ 1 mil por dia. “Disseram que não podiam dar um prazo
maior, pois tinham dado à gestão anterior”, reclama. A solução foi mandar os
resíduos para o lixão da vizinha Palmeira dos Índios, a 15 km de distância.
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontam que ainda há
2,9 mil lixões para serem erradicados em todo o Brasil, distribuídos em 2.810
municípios. A maioria, de pequeno porte, como Igaci, que, para se adequar à
PNRS, se consorciou com Palmeira dos Índios e mais 11 municípíos do agreste
alagoano para construir dois aterros sanitários de uso comum.
Para Maria Vitória Ferrari, pesquisadora em gestão e
tecnologia de resíduos da Universidade de Brasília, “a questão é cultural, é a
forma que convivemos com o lixo. Se os municípios tiverem mecanismos, as
pessoas estão dispostas a fazer as coisas certas. Mas é preciso campanhas
longas e contínuas de educação”, conclui a pesquisadora, ressaltando o papel
individual no cuidado com os resíduos, mesmo após a implementação da PNRS.
Municípios
Municípios com lixões
Brasil
5.565 2.810 (50,5%)
Nordeste
1.794 1.598 (89,1%)
Norte 449 380 (84,6%)
Centro-Oeste
466 339
(72,7%)
Sudeste
1.668 311 (18,4%)
Sul
1.188 182 (15,3%)
Fonte: Ipea
Aterro do DF sub judice
Enquanto a Novacap licita as obras de infraestrutura para o
futuro Aterro Sanitário de Samambaia, o certame para contratar os serviços de
impermeabilização do local e a empresa que vai operar o depósito foi suspenso
em fevereiro pelo Tribunal de Contas do DF. “Já respondemos aos
questionamentos, mas o tribunal não se manifestou. Estamos de mãos atadas,
infelizmente, em função dessa paralisação. O fim do Lixão da Estrutural depende
da entrada em operação do aterro de Samambaia”, lamenta o diretor da assessoria
de Planejamento e Projetos Especiais da Secretaria de Limpeza Urbana (SLU),
Edmundo Gadelha. Ele estima em seis meses o tempo necessário para que o aterro sanitário
entre em operação, após a liberação judicial.
“A legislação tem que premiar posturas e punir quem não
segue uma regra. Sou terminantemente contrário a qualquer dilatação do prazo”
Arnaldo Jardim (PPS-SP), deputado federal e relator da
Política Nacional de Resíduos Sólidos
O que diz a lei
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) passou duas
décadas em tramitação no Congresso até virar lei em 2010. Um dos principais
objetivos é fazer com que o Brasil atinja o índice de reciclagem de resíduos de
20% até 2015, que é uma das metas do Plano Nacional sobre Mudança do Clima. A
política do lixo tem horizonte de 20 anos e será atualizada a cada quatro anos.
Uma das principais novidades da PNRS é a logística reversa, que determina a
responsabilidade compartilhada entre fabricantes, fornecedores, comerciantes e
consumidores de produtos para garantir que os resíduos sejam descartados de
forma ambientalmente correta. A lei também institui programas de coleta
seletiva, educação ambiental e inclusão dos catadores de material reciclável em
todos os municípios. Também exige padrões sustentáveis de produção e de
consumo, e reciclagem de resíduos. O ponto mais polêmico é, sem dúvidas, a
exigência para que estados e municípios desativem todos os lixões e instalem
aterros sanitários até 2 de agosto de 2014. A lei admite que os municípios
formem consórcios para a gestão dos resíduos sólidos. Segundo o texto, o
prefeito que não cumprir o prazo pode ser processado por improbidade
administrativa. As cidades tiveram dois anos para se adequar à política
nacional, mas a maioria sequer elaborou o Plano Municipal de Gestão Integrada
de Resíduos Sólidos, que é a primeira etapa do processo.
FONTE EcoDebate, 06/05/2013
Isso exige três questões: uma social e a outra ambiental... então é preciso que a terceira questão seja a vergonha na cara. Não consigo entender por que há dinheiro para coisas que não sejam tão necessárias primariamente, enquanto para outras, que urram por urgências, a morosidade e o desinteresse se fazem presente, sempre!!!... Acorda povo!!!
ResponderExcluirPrezado Murillo.
ResponderExcluirEssas questões precisam ser discutidas e a sociedade precisa ter conhecimento da real necessidade de preservamos o planeta.
O Brasil precisa urgentemente de por em pratica a educação ambiental, para que todos tenham a real noção do risco que corremos, quando não damos importância as questões ambientais.
Grato pela contribuição.